Psicoterapia Institucional Francesa


Psicoterapia Institucional Francesa

A psicoterapia institucional contribuiu de maneira significativa para o tratamento dos doentes mentais internos nos asilos, sendo mais tarde implementado por outras instituições nos atendimentos a esses pacientes. A psicoterapia institucional foi assim denominada por Daumezon e Koechlin, em 1952, para caracterizar o trabalho que havia sido realizado em anos anteriores por Tosquelles no Hospital Saint-Alban, na França. Para Tosquelles, seu trabalho seria algo semelhante a um atendimento coletivo terapêutico. (Amarantes, 1998)
Durante o período da ditadura espanhola de Franco, Tosquelles passou a trabalhar na França, em um período muito crítico em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Percebendo as dificuldades da sociedade, ele se preocupou com os loucos internados nos asilos. Ao deparar com a degradante situação dos internos, Tosquelles começa uma série de transformações para ajudar esses doentes. Desta forma, “os primeiros anos de reforma do Saint-Alban são marcados pelo caráter de espaço de resistência ao nazismo, ao mesmo tempo em que se implementam iniciativas para salvar da morte e oferecer condições de curabilidade aos doentes ali internados” (Amarantes, 1998, p.21).
De acordo com o autor, o Hospital Saint-Alban se transforma rapidamente, em um local de encontro da resistência de ativistas, marxistas, freudianos dentre outras categorias, que, assim, criam "aquilo que mais tarde viria a ser um grande movimento de transformação da prática psiquiátrica na França" (Amarantes, 1998, p.21).
A partir da consolidação de uma orientação marxista e apoiadores da Resistencia Francesa, Saint-Alban se transforma num lugar de denúncias e lutas contra a segregação totalizadora da psiquiatria. A respeito às referencias culturais, Tosquelles preconiza o início da “terapia ativa”, um movimento com objetivo de resgatar o potencial terapêutico do hospital psiquiátrico. Assim, se o hospital psiquiátrico foi criado para curar e tratar das doenças mentais, tal não deve ser outra a sua destinação. Entende-se desta forma que, em consequência do mal uso das terapêuticas e da administração e ainda do descaso e das circunstâncias político-sociais, o hospital psiquiátrico desviou-se de sua finalidade precípua, tornando-se lugar de violência e repressão (Amarante, 1998).
  Deste modo, Tosquelles salienta que um hospital em boas condições, e dedicado à terapêutica, pode alcançar a cura dos doentes mentais e devolvê-los a sociedade. Uma novidade trazida pela Psicoterapia Institucional é o fato de considerar que as instituições possuem características doentias e que devem ser tratadas. Assim, a Psicoterapia Institucional busca suporte ainda no exercício permanente de questionamento da instituição psiquiátrica enquanto espaço de segregação, da crítica ao poder do médico e da verticalidade das relações intra-institucionais (Amarante, 1998).
Amarantes ressalta que o objetivo da psicoterapia institucional é criar um coletivo orientado de forma que tudo possa ser empregado. Portanto, a Psicoterapia Institucional deve trabalhar o meio, o ambiente, a fim de que o mesmo possa permitir revelar, para melhor tratar, o processo psicótico, a alienação social, resultante da inter-relaçoes do indivíduo com o meio social na duração das fases, na evolução da perturbação Vertzman et al. (citados por Amarantes, 1998).
Sendo assim, o objeto da Psicoterapia Institucional refere-se ao coletivo dos pacientes e técnicos, de todas as categorias, que se opõem ao modelo tradicional hierárquico e vertical, em que se produz a alienação social e repressora representada pelo estatuto, insígnia, uniforme, dentre outros atributos de estereotipia profissional (Amarante, 1998)
A psicoterapia institucional tem papel transformador. Porém, foi criticado por suas bases estarem centradas no modelo asilar, mais voltado ao espaço institucional, buscando uma reforma que não contempla e nem questiona a função social da psiquiatria, do asilo e dos técnicos que fazem parte deste contexto, não se preocupando em transformar o saber psiquiátrico, o sofrimento humano e os homens e a sociedade. Enfim, a instituição psiquiátrica deve ser um lugar de tratamento e valorização da vida para determinados indivíduos, defendendo assim a permanência do asilo psiquiátrico como lugar de acolhimento do psicótico.




Referências:
Amarante, P. (1998). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2ª ed. Rio De Janeiro: Fiocruz

Comentários

  1. Oi meninas, adorei a postagem! Muito explicativa e objetiva :)

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  2. Muito bom o texto de vcs sobre a Psicoterapia Institucional Francesa, possui uma linguagem de fácil compreensão. Um beijo

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