Psiquiatria de Setor e Psiquiatria Preventiva


Psiquiatria de Setor e Psiquiatria Preventiva


A Psiquiatria de Setor, que consistem em dividir a comunidade em áreas geograficas e cada uma dessas áreas correspondia a uma divisão hospitalar, surgiu na França em um contexto de pós-guerra, nos setores mais críticos, até que nos anos 1960 se tornou a política oficial. Ela se apresenta como um movimento que vai contra a psiquiatria asilar, inspirando-se nas ideias de Bonnafé e de grupos psiquiátricos que tiveram contato com os manicômios franceses e reivindicaram uma transformação urgente na forma em que esses se organizavam. Esse movimento busca por uma psiquiatria que consiga desempenhar sua vocação terapêutica, o que para os defensores desse movimento era impossível de se alcançar em uma estrutura hospitalar alienante (Amarante, 1998).
Com isso surgiu à ideia de levar a psiquiatria à população, o paciente seria tratado dentro do seu ambiente social, ao passo que a passagem pelo hospital seria somente uma etapa do tratamento, mas não ele como um todo. De acordo com Castel (citado por Amarante, 1998) a Psiquiatria de Setor se tornou a matriz psiquiátrica francesa, o que consistiu em passar para a comunidade o dispositivo de atendimento dos doentes mentais, que antes era exclusivo dos hospitais psiquiátricos.
A Psiquiatria de Setor se mostra, frente ao alto custo de manutenção dos hospitais psiquiátrico, uma politica de interesse ao Estado francês. Além da importância que esta demostrava ter frente às grandes demanda que o saber psiquiátrico estava passando com surgimento de diversas problemáticas mentais no pós-guerra, a psiquiatria de setor se mostra como instrumento eficaz para o controle social e normatização da população. Entretanto seus objetivos não foram alcançados na pratica, de acordo com Amarante (1998) por alguma dessas circunstâncias, a resistência de grupos intelectuais opostos a essa experiência, a dos setores conservadores contra a presença dos loucos nas ruas, e a dificuldade de implantar serviços de prevenção e pós-cura. Para Rotelli,
A experiência francesa de setor não apenas não pode ir além do hospital psiquiátrico porque ela, de alguma forma, conciliava o hospital psiquiátrico com os serviços externos e não fazia nenhum tipo de transformação cultural em relação à psiquiatria. As praticas psicanalíticas tronavam-se cada vez mais dirigidas ao tratamento dos “normais” e cada vez mais distantes do tratamento das situações da loucura. (Rottelli, 1994:150)
Quase na mesma época em que estava ocorrendo à Psiquiatria de Setor na França surge nos Estados Unidos, após a realização de um censo em 1955 que denunciava a irregular assistência psiquiátrica, surgiu à Psiquiatria Preventiva. Esta propõe ser a terceira revolução psiquiátrica, ao trazer estratégias para intervir nas causas ou surgimento das doenças mentais, oferecendo deste modo prevenção e promoção da saúde mental. Este projeto de psiquiatria preventivo que foi proposto pelo presidente Kennedy marca a adoção do preventivismo tanto nos Estados americanos como pelas organizações sanitárias internacionais (Amarante, 1998).
É com a psiquiatria preventiva que nasce a primeira politica nacional americana de cuidados comunitários para a saúde mental. Com ela também surge um necessidade de reforma na assistência hospitalar tornando-a mais humana, e de se criar programas de reabilitação para inserir o paciente a sociedade. Na base desta psiquiatria também surge questões teóricas, como o fato de a doença mental ser uma doença do psiquismo, fazendo com que a psiquiatria recorresse aos conceitos da sociologia e da psicologia behaviorista, a que não poderia mais recorrer somente aos métodos das Ciências Naturais (Amarante, 1998).
Foi também a proposta do preventivismo que inspirou a criação de vários modelos assistenciais e a proposta de desinstitucionalização. Com isso a reforma preventivista oferece serviços alternativos à hospitalização para se colocar contra o processo de alienação e exclusão social que ocorre com os indivíduos que são hospitalizados (Amarante, 1998).
Entretanto os resultados dos programas de prevenção à saúde mental nos Estados Unidos causaram um aumento na demanda extra-hospitalar, mas não por uma transferência dos egressos asilares para esses serviços e sim por conta dos serviços preventivos fazerem ingressar nossos indivíduos para os tratamentos mentais. Com isso os pacientes naturais dos hospitais psiquiátrico continuaram internados nos mesmos, e sendo que os números de internos acabam por aumentar através do circuito preventivista. Com isso a percebemos que a psiquiatria preventiva acaba por não produzir respostas terapêuticas adequadas (Amarante, 1998).
Desta forma percebemos que a Psiquiatria de Setor e a Preventiva trouxeram algumas mudanças significativas para a psiquiatria, contudo essas duas reformas não conseguir quebrar por completo o modelo asilar.

Referências:
Amarante, P. (1998). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2ª ed. Rio De Janeiro: Fiocruz

Comentários

  1. Boa tarde!! gostamos muito do texto de vcs, acreditamos ser relevante a discussão e comparação para entendermos a diferença entre as propostas de ações da reforma psiquiátrica. Contudo, poderiam observar alguns pontos de concordância verbal e talvez trazer algumas ilustrações, imagens para ficar mais atrativo. Mas gostamos do que foi escrito!! <3

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  2. Oii meninas!!! Gostamos muito do texto!!! Parabéns pelas discussões levantadas!!! Continuem evoluindo, estamos acompanhando cada post!!!

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