As Comunidades Terapêuticas e as Instituições Psiquiátricas


A reforma psiquiátrica brasileira sofreu influência de tendências e experiências internacionais. Por isso, na postagem de hoje, iremos trazer o conceito da Antipsiquiatria e um pouco sobre as Comunidades Terapêuticas, que ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60 na Inglaterra.

  •          Comunidades Terapêuticas

O termo Comunidade Terapêutica surgiu em denominação ao trabalho que T. H. Main realizou no hospital de Monthfiel, na Birmngham. Mas é com Maxwell que ela passa a caracterizar os processos de reformas institucionais, exclusivamente dos hospitais psiquiátricos. Essas reformas tinham como objetivo “adoção de medidas administrativas, democráticas, participativas e coletivas, objetivando uma transformação da dinâmica institucional asilar” (Amarante, 2010, p.17). As Comunidades Terapêuticas surgiram em um período histórico de pós-guerra, mostrando a precariedade que se encontrava os asilos na época, os quais não estavam tendo êxodo no tratamento com os doentes mentais. Nesse período a sociedade europeia, marcada pelas lembranças dos campos de concentração, repudiava todo o tipo de desrespeito aos direitos humanos (Amarante, 2010).
Nesse contexto psiquiátrico, abre espaço para o aparecimento ou a volta de propostas para a reforma no ambiente asilar. Entretanto foi Maxwell Jones um dos principais autores e colaboradores da Comunidade Terapêutica. De acordo com Maxwell, as Comunidades Terapêuticas deveriam ter como objetivo o tratamento dos pacientes em grupos como se fosse um único organismo psicológico. Através da ideia de Comunidade Terapêutica, que se tenta reconfigurar a estrutura excludente e cronificadora dos hospitais, possibilitando que os pacientes pudessem ter mais autonomia e oportunidade com a ajuda de outro, para superar as dificuldades, proporcionando assim situações que Jones denomina de “aprendizagem ao vivo” (Amarante, 2010).
A psiquiatria dentro do contexto de Comunidade Terapêutica busca desarticular os hospitais psiquiátricos desenvolvendo uma nova forma de tratamento alternativo com ajuda dos próprios pacientes, dando a eles oportunidades de falar de seus sofrimentos, as dificuldades e projetos de cada um, explorando seu potencial nesse processo de tratamento, em que eram organizadas reuniões com pacientes e funcionários (Amarante, 2007). De acordo com George Rosen, citado por Amarante (2007), a expressão psicossocial surgiu neste contexto histórico, contribuindo assim, para o surgimento das primeiras relações entre as transformações sociais e o psiquismo.
Franco Rotelli, citado por Amarante (2010), traz que apesar das experiências de Comunidades Terapêuticas vividas pela Inglaterra, terem trazido significativas modificações no ambiente e na forma de tratamento, que se tinham dentro dos hospitais psiquiátricos, elas não conseguiram transforma a realidade excludente dos hospitais psiquiátricos.
Porém, apesar de todas essas transformações proposta, não foi possível a implantação desse sistema de desinstitucionalizaçao fora dos manicômios, não houve uma política pública que apoiasse essa ideia, para concretização e ampliação dessas reformas, de modo que a mesma atendesse a demanda e a realidade foras dessas instituições. 

·         Anatipsiquiatria
A Antipsiquiatria teve início na Inglaterra no final dos anos 50, com grande repercussão na ‘conturbada’ década de 60. Laing e Cooper foram alguns dos psiquiatras que realizaram experiências de Comunidade Terapêutica e de Psicoterapia Institucional (nosso próximo post será sobre esse assunto) nos hospitais em que trabalhavam. Porém, perceberam que esse processo de transformação não estava alcançando seu objetivo, pois as pessoas consideradas loucas eram na verdade oprimidas e violentadas não só nas instituições psiquiátricas, local em que deveriam receber tratamentos, mas também no contexto familiar e na sociedade (Amarante, 2007).
A denominação Antipsiquiatria surgiu bem mais tarde, como uma atitude de contestação e rebeldia, procurando compreender que essa patologia não ocorre no indivíduo enquanto ser humano, ou seja, corpo e mente doente, mas sim nas relações estabelecidas entre o sujeito e a sociedade. Desta forma, no âmbito da Antipsiquiatria não era considerado a doença mental enquanto objeto natural, e sim uma determinada experiência do indivíduo em sua relação com o meio social (Amarante, 2007). Ela   rompeu com o modelo de assistência que existia na época, buscando um modelo terapêutico que valorizasse a análise do ‘discurso’ através da viagem, o delírio do louco não deveria ser poupado. Dessa forma, surge um novo projeto de Comunidade Terapêutica (Amarante, 2010).
Desta forma, podemos concluir que as Comunidades Terapêuticas e a Antipsiquiatria conseguiram promover avanços, mas não foi possível ultrapassar completamente as barreiras da psiquiatria clássica e atingir de forma concreta a população que necessita de cuidados.

Referências:
Amarante, P. (1998). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2ª ed. Rio De Janeiro: Fiocruz
Amarante, P. (2013). Saúde Mental e atenção psicossocial 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz

Comentários

  1. Parabéns meninas, o texto ficou ótimo. A separação entre Comunidades Terapêuticas e Antipsiquiatria foi uma excelente ideia, a leitura ficou mais didática. A seleção de temas também ficou ótima, focando nas principais ideias. Ansiosa para os próximos posts!

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  2. Parabéns, meninas! O texto ficou muito claro e bem articulado, facilitou muito a compreensão. E o estilo da escrita e o visual do blog ficaram ótimos! Parabéns, aguardamos os próximos posts! <3

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