A Reforma Psiquiátrica Italiana 

Na nossa postagem de hoje iremos abordar a experiência do movimento da Reforma Italiana que começou no início do ano de 1960, em Gorizia, cidade pequena no norte da Itália, com Franco Basaglia, Antonio Slavic e outros jovens psiquiatras. Os primeiros anos dessa reforma foram influenciados pela experiência das ComunidadesTerapêuticas e a Psiquiatria Institucional, com o objetivo de tornar o hospital um lugar de efetivo tratamento e reabilitação, sendo estas estratégias provisórias para se desmontar a estrutura manicomial (Amarante, 2013).

Entretanto através do contato com as obras de Michel Foucault e Erving Goffman, Basaglia passou negar a psiquiatria enquanto ideologia (Amarante, 2013). De acordo com Amarante (1998), os ideais terapêuticos para se tratar a louco acaba por aproxima-lo ainda mais da loucura. Atribuindo ao louco uma identidade de marginal e doente, excluindo esse da sociedade e inserindo-o em instituições organizadas para ser tratado e reabilitado. As práticas psiquiátricas, dessa forma, colocavam o sujeito entre parênteses, preocupando-se somente com a sua doença, em vez de tratar esse individuo em sua totalidade.
“O paradigma psiquiátrico clássico transforma loucura em doença e produz uma demanda social por tratamento e assistência, distanciando o louco do espaço social e transformando a loucura em objeto do qual o sujeito precisa distanciar-se para produzir saber e discurso.” (Amarante, 1998, p.29)
Frente a essa realidade, Barros (1994, citado por Amarante, 1998) acredita que para se modificar a prática psiquiátrica somente colocar a doença entre parênteses não seria suficiente, para isso era preciso mudar de forma radical o processo de se ver a loucura simplesmente como doença mental. Os italianos viam a necessidade de um processo que criasse condições de modificar esse momento de sofrimento e existência social. Com isso, o movimento de reforma psiquiátrica italiana vê a necessidade de se fazer uma revisão da fundação da práxis do saber médico, e dá início a uma estratégia de reinvenção da assistência que irá além do modelo das Comunidades Terapêuticas e da Psicoterapia Institucional que possuíam uma relação entre sociedade e instituição (Amarante, 1998).
Com isso a trajetória reforma psiquiátrica italiana proporcionou uma ruptura com o saber psiquiátrico clássico. Em 1971, em Trieste, inicia-se um processo de desmontagem dos manicômios e construção de novos espaços e de novas formas para lidar com a loucura e a doença mental. Esses novos espaços são os Centros de Saúde Mental, construídos em áreas distintas da cidade, funcionando 24 horas por dia, todos dos dias da semana, esses se baseiam na Psiquiatria de Setor. Também são construídos grupos-apartamentos, que servirão de moradia para os usuários, podendo estes morar sozinhos ou acompanhados técnicos que prestam cuidados as essas pessoas. É nesse contexto que também surgem às cooperativas de trabalho, sendo estas, outra forma de cuidado para essas pessoas e de criação de possibilidade de trabalho.  Inicialmente as cooperativas de trabalho eram dirigidas para os ex-internos do hospital, e depois passou a representar um “espaço de produção artística, intelectual ou de prestação de serviços, que assume um importante papel na dinâmica e na economia” (Amarante, 1998, p.31) dos Serviços de Saúde Mental e de toda a sociedade (Amarante, 1998).
Em 1973 surgiu o movimento Psiquiatria Democrática, que é um movimento político cujo objetivo é formular bases mais amplas para visualização da reforma psiquiátrica seguindo as ideias de Basaglia, para todo o território italiano (Amarante, 1998). Esse movimento levou a publicação da Lei 180 aprova em 13 de maio de 1978.
Com isso podemos observar que das reformas psiquiátricas que abordamos até aqui no nosso blog, o movimento de Psiquiatria Democracia Italiana foi a que mais obteve êxito. Pois apesar de ter aspectos que se assemelha com as outras reformas, como considerar as instituições psiquiátricas com segregadoras e excludentes, o que foi abordado na Psicoterapia Institucional, e construir Centro de Saúde Mental se assemelhando a Psiquiatria de Setor, a Psiquiatria Democrática será a única que conseguirá romper com a psiquiatria clássica e fechar os manicômios.

Referências:

Amarante, P. (1998). Loucos pela vida: A trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 2ª ed. Rio De Janeiro: Fiocruz
Amarante, P. (2011). Saúde Mental e atenção psicossocial 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz

Comentários

  1. Olá, meninas, gostamos bastante do texto principalmente pelo fato de vocês terem linkado os termos "Psicoterapia Institucional" e a "Psiquiatria de Setor" para que as pessoas tenham acesso quando estiverem lendo o texto, além da comparação que fizeram. Apenas pela questão visual, achamos que ficaria melhor se justificassem o texto e aumentasse um pouco a letra da citação direta, uma vez que essa está muito pequenininha. Até a próxima, beijos (・∀・)

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  2. Muito legal o texto de vocês meninas!!! Abordaram o tema de forma clara, visto que já estamos cansadas com a aproximação do fim do semestre, a leitura foi tranquila!!!

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  3. Leitura agradável! Texto pontual e esclarecedor! Obrigada pela reflexão!!!

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